Vôo maluco para Bocas del Toro
No Panamá, um simples vôo para o norte do país ganha o charme de uma aventura inesperada e prazeirosa



O tempo não estava dos melhores, mas um país que vive de chuvas, como o Panamá, qualquer uma delas é bem vinda. A principal economia do país é o canal, onde passa metade dos navios de carga do mundo e o canal é formado pelo lago Gatún, que por sua vez deriva do rio Chagres. Todo este sistema é alimentado das águas da chuva e para isto o Panamá preserva muito bem suas florestas tropicais. Eu estava com um grupo visitando o país, já havíamos conhecido o canal e estávamos agora indo de avião para Bocas del Toro, no Caribe norte do país. Bem, o avião era mesmo pequenininho, 19 lugares. Serviço de bordo, banheiro e aeromoça nem pensar, e os pilotos sequer falaram bom dia pelo alto falante do aparelho, se é que tinha algum.
Bem que eu achei estranho perguntarem meu peso no balcão de check in, acho até que não acreditaram no peso que eu disse, mas me fazerem subir na balança para conferir depois foi demais. Procedimento padrão falaram e não teve um que não subisse na dita cuja. Moço, velho, senhoras ou crianças, todos subimos na balança que se assemelhava mais aquelas antigas de estrada de ferro.
Distribuíram os lugares conforme o peso para equilibrar o avião, mas lá dentro os assentos não tinham número, então sentamos aleatoriamente onde quisemos mesmo. Se não vão conferir onde sentamos no aparelho e os assentos não tem número, por que nos fazem subir na balança?

Eu mal cabia naquela poltroninha, que não reclinava de jeito nenhum, mas ao contrario da maioria do meu grupo, eu não estava apreensivo. “eu não vou morrer num avião, eu disse, então se eu estiver a bordo não se preocupem”. A frase tinha uma intenção de causar um efeito psicológico para passar confiança principalmente em mim, já que o aspecto do aparelho não era dos melhores.
A porta se fechou atrás de mim, meio que na porrada, e uma pequena fresta ainda deixava entrar ar e claridade. Não é um aparelho de cabine pressurizada dá para perceber, pelas frestas da porta mal fechada. As asas são em cima com dois motores, um em cada asa, claro.

Então os barulhentos motores foram ligados, o avião se deslocou pela pista, acelerou, correu, e o pequeno “De Havilland DHC 6 Twin Otter” finalmente levantou vôo. Eram 6,45 da manhã, na cidade do Panamá que mal acordara.
O tempo estava super nublado e as nuvens além de impedir a visão da paisagem ainda faziam o sacolejar o bicho no céu, mas ventava tanto que as nuvens se abriam e o sol de vez em quando aparecia.

O Panamá, naquele trecho, tem apenas 80 quilômetros de largura e a cidade do Panamá fica numa baía do lado do oceano Pacífico, mas do alto a gente consegue avistar toda a sua extensão até o oceano Atlântico. Dois oceanos na mesma visão da janela é uma coisa rara e o avião batizado de nome grande e pequeno na construção fura as nuvens em direção ao norte. Um vôo um tanto quanto turbulento em alguns momentos e calmo em outros, até que começou a chover e um dos passageiros, no ultimo banco ao lado da porta reclama sentir a umidade em suas roupas. Estava chovendo dentro do avião, a água entrava pela pequena abertura da porta. Olho em volta e tudo parece mal aparafusado ou quebrado, mas o aparelho parecia bem seguro, louco mesmo era o piloto.



Baixamos para Bocas del Toro, no Caribe panamenho, mas o tempo chuvoso não nos convencia muito disto, embora em alguns pontos a água se mostrasse clarinha, quase transparente e azul. Com sol deve ser bonito penso eu.

O procedimento de pouso foi um rasante pela cidade e o aparelho se aproximou baixo demais da cabeceira, quase tocamos a trave do campinho de futebol na cabeceira da pista sem interromper a partida, e o avião tocou o solo antes do previsto, percorreu alguns metros e então deu um cavalo de pau. Girou rapidamente no eixo e recomeçou a acelerar de volta na pista, não deu tempo nem de levar um susto e já estávamos em frente ao terminal de passageiros com os funcionários da Air Panamá rindo da loucura do piloto. Ele estava com tanta pressa que deu o cavalo de pau, voltou para o terminal e parou o avião. Descemos meio sonolentos e assustados e a caminho do terminal deu para ver a cara espantada dos passageiros que iriam agora entrar no mesmo avião de volta para a cidade do Panamá. Lá vem de volta o piloto, baixinho, gordinho e careca, mas com uniforme impecável, correndo com os papéis de autorização e plano de vôo na mão, entrou no aparelho, fechou a porta e ligou os motores, numa atitude como que a gritar: quem quiser que me siga. Enquanto caminhávamos para a van que nos levaria ao hotel o “De Havilland DHC 6 Twin Otter” taxiou, acelerou e levantou vôo com toda a pressa do mundo, bravo e valente rumo as nuvens que já se dissipavam, prenunciando o sol que na verdade só apareceu no dia seguinte.




Publicado por Victor Andrade em

Eduardo Nascimbeni
Uma vez também viajei num avião pequeno assim, de Palmas a Brasília.
O que me espantou foi ver a sombra do avião sepenteando nos pastos durante a viagem, hehehe.
Abração do Dado.

Victor Andrade

Eduardo Nascimbeni
Adorei.
Dado.

Victor Andrade

Leda
Também quero saber mais sobre Bocas del Toro.
Leda

Victor Andrade

Glaucya Braga

Victor Andrade

Nina

Victor Andrade

Família Müller
Grande abraço,
Ronny, Lu e Matheus

Victor Andrade

Antonio Sérgio Braga

Eduardo
Sabe me informar quanto custa o voo de ida e volta da cidade do panama para bocas del toro?
Victor Andrade