Volta à Ilha do Mel (face norte)
Foram necessários 8h45min de caminhada intensa, com parada apenas para tomar água, tirar foto e me reorientar, para se realizar uma volta completa à face Norte da Ilha do Mel, de istmo do lado oeste (Mar de Dentro) ao leste (Mar de Fora).
Breve alongamento e iniciei a caminhada pela Praia do Limoeiro às 10h05min, com expectativa de realizar volta completa em 5h.

Ledo engano. Havia chovido à noite inteira anterior e minutos antes da aventura, deixando um dos rios que deságuam no mar bastante caudaloso e profundo, além da maré cheia que dificultou a caminhada ao redor da ilha, precisando pisar e áreas inundadas, outras desviar de inúmeros obstáculos.
Tive que me aventurar por regiões de caxetais, restingas (“vegetação mista composta de árvores, arbustos, epífitas, trepadeiras e muitas bromélias de chão e samambaias resistentes. Crescem revestindo ares litorâneas fora do alcance do mar. É uma vegetação com folhas rijas, caules duros e retorcidos, além de raízes com forte poder de fixação”), flores densas e manguezais (formações pioneiras de influência flúvio-marinha – “ecossistema dinâmico de grande importância ecológica, formando o elo básico de cadeias alimentares devido à quantidade de matéria orgânica produzida. Ocorrem nas áreas baixas das planícies costeiras que ficam inundadas nas marés altas e emersas nas maré baixas onde há o encontro das águas do rio e do mar”) em progressões, táticas e movimentações quase militares.

Às 12h30, ao final da Praia do Limoeiro, de longe parecia avistar uma intervenção humana, de perto, divina. Uma escultura adornada pelo mar em tons oscilando entre o marrom claro e o escuro – as falésias (“sedimentos arenosos do Holoceno; na parte inferior os sedimentos apresentam enriquecimento epigenético em matéria orgânica, formando um horizonte conhecido popularmente como piçarra. A parte superior é formada por areias brancas com lâminas escuras devido à concentração de minerais”) – e desenhos que impressionam pesados.
As mãos da Natureza esculpiram ainda verdadeira escadaria natural no local que denominava Coroazinha. Belíssima.

Passado a Ponta do Cedro, Coroazinha e Ponta Oeste (pequena comunidade que aos poucos está sendo realocada para a porção sul da ilha), como a maré estava cheia com a água indo de encontro diretamente aos troncos, raízes e emaranhado de galhos das diversas árvores no litoral que formavam a flores baixa halófita (manguezal(, fui obrigado a me aventurar por dentro da Estação Ecológica: uma mata intocada totalmente fechada, sem trilhas à vista, repleta de bromélias (“O elevado grau de umidade da Flores Atlântica favorece o desenvolvimento de inúmeras epífitas, dentre estas, as formosas bromeliáceas) e quando epífitas, as raízes são meros meios de sustentação. Quando terrestres, as raízes se fixam no solo para extração de água e sais minerais”), samambaia-açus (“as samambaia-açues, yathea SP. Cyatheaceae, são elementos que contribuem para a melhora significativa das propriedades físico-químicas dos selos da Floresta Pluvial Atlântica. Ocorrem na mata de planície e na mata de encosta, mas estão se tornando cada vez mais raras em face da exploração irracional do xaxim””) e samambaias extremamente doloridos e cortantes (fiquei com dezenas de cortes nos pés, tornozelos, pernas e braços), algumas orquídeas (“cerca de 2.300 espécies de orquídeas já foram registradas no Brasil, das quais 80% ocorrem na Floresta Atlâtnica”) e bromélias floridas (“são monocotidelôneas – embrião de semente com apenas 1 folha”), árvores altas, liquens e musgos cobrindo o chão com um belo tapete verde esperança e rios cobreados, estes que abrigam jacarés entocados mas que não tive a felicidade de vê-los.

Por falar em rios cobreados, que beleza foi admirar minutos antes da Ponta Oeste (ponto mais próximo de Paranaguá) aquele presente da natureza do encontro do rio em degradê cobre-dourado-amarronzado com o verde-azul celestial do mar; um espetáculo!
Com o rio muito profundo, da 3ª vez na mata, foi aventura mesmo. Dentro de uma Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, o negócio foi caminhar para onde tinha maior luminosidade. Mas como se a mata é densa, totalmente fechada? Seguir o som do mar? Não tinha como: o mar é calmo como uma piscina. E sol, não havia para me orientar. O jeito foi confiar em Deus, na intuição, para que o caminho fosse iluminado. E aconteceu, às 16h30! Encontrei uma trilha que provavelmente fora feita pelos nativos da comunidade da Ponta Oeste.Seguindo a extensa trilha, fui sair às 17h na praia da porção Norte da ilha, próximo à Ponta do Hospital. Segui pela Ponta do Cassual, caminhei pelo Rádio Farol às 17h30, em direção à Ponta do Bicho, aonde pude admirar os procurados golfinhos de passagem no mar calmo e águas temperadas.

Às 18h5min estava em frente à Fortaleza e às 18h50, passado o istmo pelo lado leste, chegando na pousada. Neste momento, se demorasse um pouco mais, quase que a Claudia faz um “passeio de lancha” com os policiais para realizar um resgate de salvamento. - Ufa, por pouco! Deu tudo certo.
Para se fazer esta caminhada, realizar a aventura de forma segura, é imprescindível que a maré esteja baixa. Agora eu sei: eu e a Vila inteira...
Estima-se 20km de caminhada no contorno pela praia, porém como andei dentro da mata também, acredito que tenha ido mais uns 6 ou 8km.

Conversando com um simpático policial ambiental quando retornávamos à Paranaguá de barco no dia 24 de outubro, descobrimos que a estação biológica que caminhei abriga espécies de cobras como Coral e Jararaca e animais felinos a exemplo da onça-parda (suçuarana – puma concolor – “2° maior felino da Floresta Atlântica. Excelente nadadora e caçadora, precisa de no mínimo 20m² de extensão para sobreviver”).
Só queria ter conseguido identificar que animal branco e pardo que eu vi correndo pela mata a dentro...
Publicado por Caminhando pela Vida em